domingo, 21 de dezembro de 2014

Inventar as palavras

É preciso inventar palavras. Novas. Tirá-las do papel e do ecrã e oferecer-lhes outra dimensão. É preciso elevar o sentido de certas palavras, importantes, de modo a sobreporem-se às que possam estar no seu lugar. É preciso transformar o material de determinadas palavras, a matéria de que são feitas. Palavras que aprendemos, criamos e manipulamos. Há frases nossas que são  comunicação, mas há outras frases que são internas e nos compõem. É preciso ir ao centro das letras e das palavras, atravessar a opacidade e revelar-lhes os sentidos ocultos. É preciso encontrar a transparência nas palavras e mostrar o mundo físico que representam. É preciso ouvir o silêncio durante muito tempo e soltar depois palavras saudosas. É preciso sentir o seu movimento. Saber que a construção de cada letra é trabalhosa, a construção de cada frase é também um sentido e que a construção de um texto é uma vida. Cada texto escrito é um tempo a mais de vida. É preciso sentir que podemos dizer e para isso é fundamental encontrarmos as nossas palavras.

 Nuno Bernardo