É preciso inventar palavras. Novas. Tirá-las do papel e do ecrã e oferecer-lhes
outra dimensão. É preciso elevar o sentido de certas palavras, importantes, de
modo a sobreporem-se às que possam estar no seu lugar. É preciso transformar o
material de determinadas palavras, a matéria de que são feitas. Palavras que
aprendemos, criamos e manipulamos. Há frases nossas que são comunicação, mas há outras frases que são
internas e nos compõem. É preciso ir ao centro das letras e das palavras,
atravessar a opacidade e revelar-lhes os sentidos ocultos. É preciso encontrar
a transparência nas palavras e mostrar o mundo físico que representam. É
preciso ouvir o silêncio durante muito tempo e soltar depois palavras saudosas.
É preciso sentir o seu movimento. Saber que a construção de cada letra é
trabalhosa, a construção de cada frase é também um sentido e que a construção
de um texto é uma vida. Cada texto escrito é um tempo a mais de vida. É preciso
sentir que podemos dizer e para isso é fundamental encontrarmos as nossas
palavras.
Nuno Bernardo